Preservar e salvar vidas através do processo medicamentoso seguro

Resumo

Introdução

A farmácia hospitalar tem como objetivo, dentre outros, garantir o uso seguro e racional dos medicamentos prescritos, com processos bem definidos e de qualidade que assegurem a eficácia do tratamento e a segurança do paciente. A farmácia tem participação estratégica na elaboração de uma política de uso racional de medicamentos, com vistas a melhorar e garantir a qualidade da farmacoterapia e reduzir os custos institucionais.

Este estudo relata os processos e as intervenções realizadas pelo serviço de farmácia hospitalar, bem como, o caminho que o medicamento percorre até a chegada no paciente a beira leito no Hospital Vida e Saúde de Santa Rosa – RS, qual é acreditado com excelência pela Organização Nacional de Acreditação (ONA).

Objetivo

Descrever a evolução do processo medicamentoso no Hospital Vida e Saúde, como pilar na qualidade e segurança do paciente.

Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo o qual narra as intervenções realizadas para melhoria do processo medicamentoso.

Discussão/Conclusões

Ao final da implementação do processo medicamentoso, desde o recebimento até a administração no paciente, observa-se uma significativa melhora nos resultados, o que é confirmado pelos indicadores de gestão relacionados a segurança na prescrição, uso e administração de medicação. Os dados institucionais permitem afirmar que desde o início da implementação deste processo não há registros de evento adverso classificado como letal, relacionado ao processo medicamentoso.

O conjunto de ações desenvolvidas pela Gestão no atendimento seguro ao paciente, relacionado a medicação segura, aumentou a confiança dos pacientes, familiares e profissionais envolvidos no processo.  Além disto, houve diminuição de custos e retrabalho, o que repercute ao profissional de saúde em maior disponibilidade de tempo na assistência direta ao paciente. Pode-se afirmar que com a implementação desse processo, investimento tecnológico, melhoria da infraestrutura, capacitação dos profissionais e gestão dos indicadores assistenciais de segurança, a direção considerou os custos como um importante investimento a favor das vidas que podem ser preservadas e ou salvas através de um protocolo medicamentoso seguro.

Descritores: Farmácia Hospitalar; Intervenção Farmacêutica; Segurança do Paciente; Dispensação por Dose Unitária;

Introdução

O Hospital Vida e Saúde é parte integrante da história do município. Desde a sua fundação, em 27 de junho de 1935, exerce um papel fundamental na saúde da população santarosense e região. Foi idealizado para ser uma Instituição de cunho filantrópico em função da necessidade de prestação de assistência ou ajuda, primando sempre pelo atendimento da população menos favorecida, o que vigora até a atualidade, confirmado pelos 74% dos atendimentos prestados aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) no ano de 2022.

A partir de 2006 o Hospital começou a viver um novo momento. A gestão da Instituição começou a ser realizada por um Conselho de Administração que, de forma voluntária, conseguiram firmar importantes parcerias para proporcionar investimentos na infraestrutura, tecnologia e gestão.

Atualmente, essa Casa de Saúde presta serviços de média e alta complexidade para uma população em torno de 1 milhão de pessoas, nas mais diferentes especialidades. A busca por melhorias na infraestrutura, qualidade e segurança na assistência tem sido a marca da Instituição nos últimos anos. Fruto deste trabalho um projeto moderno e inovador está sendo construído e irá proporcionar ao Complexo Hospitalar ser referência para todo o Estado.

Ao longo de toda sua trajetória, a presença do Hospital Vida e Saúde se confunde com a história do desenvolvimento regional, pois ao longo do tempo construiu-se um valioso patrimônio constituído de prédios, equipamentos e instalações, mas acima de tudo é constituído por profissionais competentes e humanos comprometidos com o SER e a VIDA.

Neste contexto, a farmácia hospitalar tem participação estratégica na busca constante por qualidade e segurança aos pacientes. A implementação da política de uso racional de medicamentos vai muito além dos inúmeros benefícios aos pacientes. Proporciona aos profissionais confiança e credibilidade em suas ações e tem a preocupação econômica em e reduzir os custos.

A farmácia hospitalar é um setor do hospital onde envolve atividades administrativas e econômicas, gerenciada por um profissional farmacêutico. (CARVALHO, 2017). Têm como sua principal atividade a dispensação dos medicamentos de acordo com a prescrição médica, nas quantidades e especificações solicitadas, de forma segura e no prazo requerido, o que possibilita o uso seguro e correto de medicamentos.

Nas últimas duas décadas, as farmácias hospitalares no Brasil, têm evoluído e se organizado com o objetivo principal de contribuir para a qualidade da assistência à saúde e, tendo o medicamento como instrumento central exercício dessa função, devem ter como foco de sua atenção o paciente e suas necessidades (TRAJANO, 2019). Assim, seus processos, sua organização e sua prática devem assegurar um tratamento medicamentoso de qualidade, bem como, prevenir que erros de dispensação aconteçam.

Na assistência à saúde, os medicamentos têm papel crucial na terapêutica, com potencial curativo, diagnóstico e de alívio de sintomas. O acesso a eles é considerado um direito humano fundamental, mas deve ser promovido de forma racional a fim de minimizar os eventos adversos relacionados. Ou seja, um processo que forneça o medicamento ideal para aquele indivíduo que o necessita, compreendendo a prescrição apropriada, disponibilidade oportuna, dispensação adequada e administração ou consumo em doses, intervalos e períodos indicados (MONTEIRO, 2021). O medicamento ideal, por sua vez, corresponde a aquele que tem a forma farmacêutica adequada, de fácil administração, boa adesão terapêutica, concentração e volume corretos para se obter a dose necessária (QUEIROZ, 2016).

A prevenção de erros de medicação tem sido reconhecida mundialmente como uma prioridade para os serviços de saúde, já́ que são considerados eventos adversos evitáveis e que, além de causar danos ao paciente, ocasionam custos às instituições sendo considerado atualmente como um problema de saúde pública crescente. Conhecer todas as características peculiares relacionadas ao sistema de medicamentos, contribuiu para subsidiar a reorganização dos processos de trabalho voltados a prevenção de erros. O erro de medicação se caracteriza por qualquer discrepância entre a medicação prescrita e a administrada (VEIGA, 2021).

Neste ínterim, o presente estudo descreve como era desenvolvido o processo medicamentoso antes da realização de padronização e quais os resultados obtidos com a implementação do processo de medicamentoso seguro.

Objetivo Geral

Descrever a evolução do processo medicamentoso no Hospital Vida e Saúde, como pilar na qualidade e segurança do paciente.

Metodologia

Trata-se de um relato descritivo das atividades realizadas pela farmácia hospitalar para garantir um processo medicamentoso seguro.

Essa narrativa descreve as ações desenvolvidas no Hospital Vida e Saúde, situado na região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul, de grande porte, filantrópico, certificado com Excelência – nível 3 (ONA).

No referido hospital funciona o Serviço de Assistência Farmacêutica com atuação de dose farmacêuticas, distribuídas por turnos e plantões. Além da dispensação por dose unitária, por horário, com diluição e tele entrega pela farmácia, o serviço dispõe de Farmácia Clínica, Conciliação Medicamentosa, Intervenção farmacêutica, participação em Rounds multiprofissionais diários além de atuar em treinamentos e capacitações das equipes quanto ao processo medicamentoso.

Foram incluídos no relato todos os processos adotados a partir da chegada da medicação na instituição, até a administração no paciente a beira leito.

Discussão

Infraestrutura da Farmácia Hospitalar do Hospital Vida e Saúde

O espaço interno da farmácia deve ser independente de forma a não permitir o acesso desnecessário de usuários e profissionais de outros setores nos ambientes internos da farmácia. Deve-se considerar ainda, mecanismos e equipamentos de segurança à proteção das pessoas e dos produtos em estoque, pois são determinantes para manter a ordem e a harmonia no ambiente e minimizar perdas por furtos e avarias.

Pensando em garantir uma estrutura adequada para o funcionamento das farmácias, as áreas foram divididos da seguinte forma:

  • 1 Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF);
  • 1 Farmácia Central;
  • 1 Central de Diluição de Medicamentos;
  • 3 Farmácias do Bloco Cirúrgico;
  • 1 Farmácia Oncologia.
Imagem 1 Local de dispensação da Farmácia Central

Padronização dos processos

A falta da padronização do processo medicamentoso, permitia erros em relação ao fluxo da medicação. Essa situação acarretava, desperdício de recursos materiais, dificuldades na infraestrutura, recursos humanos, ambiente, eventos adversos, etc.

A padronização dos processos veio através da necessidade de organização das metodologias e ações da Instituição, tendo como objetivo uma maior qualidade e segurança para o paciente e servindo como um suporte para a avaliação de resultados. Entre os processos medicamentosos, o PP 075 – SEGURANÇA NA PRESCRIÇÃO, USO E ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS, define o padrão de execução no sentido de promover práticas seguras no uso de medicamentos em âmbito hospitalar.

Através deste definiu-se:

  • Práticas seguras para prescrição de medicamentos;
  • Práticas seguras de distribuição de medicamentos;
  • Práticas seguras na administração de medicamentos;
  • Tratamento de não conformidades e eventos;
  • Padronização de medicamentos e procedimentos adotados;
  • Farmácia clínica, farmacovigilância e reconciliação medicamentosa;
  • Indicadores de monitoramento e controle.

Padronização dos medicamentos

O Manual de Padronização de Medicamentos destina-se aos médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêuticos e demais profissionais que atuam na instituição, e tem por finalidade tornar acessível a relação de medicamentos elaborada pelo comissão de Padronização de Medicamentos e pelo Serviço de Farmácia Hospitalar e aprovada para uso na instituição.

Diante do elevado número de medicamentos, é imprescindível que o hospital padronize e divulgue o manual de medicamentos padronizados disponíveis no serviço de farmácia.

A padronização de medicamentos é uma relação básica de medicamentos que tem por objetivo o atendimento médico-hospitalar de acordo com suas necessidades e peculiaridades locais, otimizando o equilíbrio entre eficácia, segurança e custo da assistência hospitalar.

Para sua elaboração levou-se em consideração princípios ativos mais utilizados nas patologias tratadas na instituição e os medicamentos foram relacionados pela Denominação Comum Brasileira (DCB).

A existência de uma relação padronizada de medicamentos proporciona ao hospital alguns benefícios, como:

  • Adquirir somente produtos com valor terapêutico comprovado;
  • Reduzir o custo da terapêutica, sem prejuízos para a segurança e a efetividade do tratamento;
  • Reduzir o número de fórmulas e formas farmacêuticas;
  • Reduzir os estoques qualitativo e quantitativo;
  • Reduzir o custo de aquisição de medicamentos;
  • Facilitar a comunicação entre farmácia, médicos, enfermagem e setores administrativos;
  • Simplificar rotinas de aquisição, armazenamento, dispensação e controle;
  • Agilizar a dispensação;
  • Viabilizar a dispensação pelo sistema de Dose Unitária.

Foi elaborado um documento com todos os medicamentos padronizados (M 002 – MANUAL DE PADRONIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS) e criado uma comissão para aprovação de novas medicações a serem inclusas.

Os médicos devem estar cientes de que o medicamento que ele está prescrevendo é padronizado no Hospital e que estará disponível para administração. Para isso terão disponível o Manual através do sistema utilizado, bem como, o Tasy nos traz a informação das medicações no momento da prescrição eletrônica.

Informatização da prescrição e dos processos

A prescrição é, essencialmente, um instrumento de comunicação entre médico e equipe multidisciplinar, principalmente a farmácia e enfermagem que realizam a dispensação e administração das medicações. Para ser considerada adequada, além da clareza deve seguir os critérios para prescrição racional, sendo apropriada, segura, efetiva e econômica. Essas características contribuem para maiores chances de êxito da terapia aplicada e segurança do paciente.

A ilegibilidade da escrita e a falta de informações claras nas prescrições manuais levam a erro de interpretação, erro de dispensação, falhas nas vias de administração e nos intervalos de aplicação, entre outros danos que poderiam gerar eventos relacionados a medicação.

Imagem 2 Prescrição manual utilizada antes da informatização do processo

A informatização do processo medicamentoso tem grande impacto na qualidade dos serviços, pois a segurança em relação ao tratamento do paciente se torna mais confiável a ponto de ter barreiras que impeçam a continuação do possível erro. 

No intuito de melhorar a performance do processo medicamentoso com o auxílio da tecnologia, em 2014 foi adquirido e implantado um novo sistema ERP (Tasy).   

O novo sistema permitiu a implantação da prescrição eletrônica que levou o Hospital a um outro patamar de controle e rastreabilidade no tratamento medicamentoso do paciente. Através dela foi possível criar barreiras como: alertas de alergias, bloqueios de vias de administração não autorizadas, preenchimento completo dos dados da medicação, alertas de duplicidade, avaliação de prescrições pelas farmacêuticas e bloqueios que evitam possíveis erros.

Atualmente, a prescrição é realizada em todos os setores, através de um processo integrado, onde a consulta das informações acontece em tempo real. Com esta tecnologia as informações sobre medicações são visualizadas pela equipe da farmácia, tão logo sejam liberadas pelo médico.

Imagem 3 Prescrição Médica – eletrônica

Gerenciamento de estoques

A gestão logística tem como principal finalidade a eficácia na administração de materiais, proporcionando a sua disponibilidade no tempo correto, em quantidade exata e ao menor custo possível (ANDREOLI, 2015).

O gerenciamento interna do estoque é feita pelas áreas de Suprimentos e Farmácia de forma integrada. Essa relação não pode ser feita por suposições, mas com base em informações. A área de suprimento utiliza através da plataforma Gtplan a inteligência artificial para gerar a demanda para ressuprimento através do que temos em estoque e do que está sendo consumido e possui saída no momento, gerando uma economia em relação a quantidade de valor parado em estoque, bem como um controle maior para não haver faltas.

A reposição dos estoques das Farmácias Satélites e Carros de Emergência são automatizadas, conforme demanda e estoques máximos para cada local, fazendo com que ocorra um maior controle das entradas e saídas de medicamentos.

Os locais de armazenamento de medicamentos possuem controle de entrada e saída, bem como, medicações de alta vigilância possuem armários com chave para a guarda dos mesmos.

Imagem 4 Prescrição Médica – Eletrônica

Unitarização

A utilização de seladoras manuais (equipamento indicado para selagem de embalagens plásticas de polietileno e polipropileno) para o processo de unitarização de comprimidos, drágeas e cápsulas pode trazer riscos em relação a perda de informações do rótulo do produto, pois o medicamento é retirado da sua embalagem original, blister é cortado, perdendo as informações originais de nome, dosagem, lote e validade. As informações eram copiadas manualmente pelo profissional em etiqueta adesiva e coladas na nova embalagem do produto.

Visando sempre a segurança do paciente foi adquirido uma unitarizadora semi-automatizada Opuspac de fórmulas farmacêuticas sólidas como comprimidos, cápsulas e drágeas.

Este equipamento é interligado ao sistema, que traz a informação necessária do rótulo do produto (Nome, dosagem, lote e validade) através da vinculação da chegada da medicação pela conferência da Nota Fiscal, não sendo mais necessário o retrabalho de copiar as informações e também oferecendo uma maior segurança neste processo.

Uma das funcionalidades utilizadas no equipamento é realizar a diferenciação de cores através de classificações adotadas pela instituição, como por exemplo medicações potencialmente perigosas e de alta vigilância no processo de fracionamento.

A utilização da Opuspac nos auxilia no fracionamento por dose unitária e na classificação das cores da chegada da medicação até a bipagem beira leito no momento da administração da medicação no paciente.

Através da sistemática de cores, conseguimos treinar as equipes das diferentes áreas para um cuidado maior e um entendimento melhor do risco que as medicações oferecem no momento da diluição e administração.

Imagem 6 Processo de Unitarização através da Opuspac

Sistema de dispensação

O sistema utilizado era de dispensação individualizada, ou seja, medicamento dispensado por paciente, para um período de 24 horas.  A prescrição completa do paciente era atendida uma única vez, o que gerava estoques não controlados nos setores e medicações disponíveis para uso indevido.

A identificação utilizada para informar o destino da medicação era apenas o número do leito, não constando nome do paciente. Sistema este que oferecia um potencial risco de erro de medicação pelo fato das medicações estarem expostas todas juntas. Ocorria falta de controle efetivo do estoque, das baixas e cobranças realizadas e entrega de medicações “SN” e “ACM” (Se Necessário e A critério Médico) mesmo sem haver necessidade da administração no paciente naquele momento do atendimento da prescrição pela farmácia.

Imagem 7 Estrutura da Farmácia Central e dispensação para 24h

Uma das estratégias para tentar minimizar essas limitações relacionadas à terapia dos pacientes, auxiliando na oferta de maior segurança ao paciente durante o processo de medicação, é a utilização do sistema de distribuição de medicamentos por dose unitária (SDMDU). Nesse sistema, os medicamentos são dispensados nas dosagens e formas adequadas para o paciente, prontos para serem administrados pela enfermagem, de acordo com a prescrição, num dado período, incluindo o farmacêutico como mais uma barreira para possíveis erros de medicação ao analisar a prescrição para confecção das doses num ambiente controlado (Teles et al, 2020). No Brasil sua regulamentação é realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em sua Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 67 de 8 de outubro de 2007 (Brasil, 2007).

O sistema de dispensação de medicamentos no Hospital Vida e Saúde foi modificado para dose unitária/por horário, com diluição e com “tele-entrega” de medicamentos para as unidades de internação. Neste processo não ocorre o acúmulo de doses a serem preparadas pelos profissionais de enfermagem, bem como, acúmulo de medicamentos que poderão ser desperdiçados, acarretando em prejuízo.

A dispensação adotada determina o grau de controle que se tem com as medicações e proporciona doses personalizadas aos pacientes conforme prescrição médica (sem sobras nas unidades de internação), redução dos erros de medicação, racionalização da distribuição, reduz os custos da instituição em relação aos medicamentos e aumenta a segurança para o paciente.

A razão de ser deste modelo de dispensação está em analisar a prescrição, corrigindo eventuais problemas a fim de garantir que o paciente receba o tratamento correto e adequado conforme a prescrição médica.

Imagem 8 Dispensação por dose unitária, por horário, com diluição e tele-entrega nas unidades de internação

Dentre os sistemas de dispensação, a Dose Unitária oferece:

  • Segurança para uma adequada terapia medicamentosa;
  • Redução da incidência de erros;
  • Utilização mais efetiva dos recursos profissionais;
  • Pode gerar redução de custos no desperdício de medicamentos;
  • Sistema mais racional e que oferece melhores condições de controle.

Vantagens atribuídas a esse sistema:

As vantagens observadas no processo de dispensação por dose unitária são:

  • Redução da incidência de erros de administração de medicamentos;
  • Identificação do medicamento até o momento da sua administração, sem necessidade de transferências e cálculos;
  • Redução de tempo dispendido pelo pessoal de enfermagem nas medicações;
  • Diminuição de estoques periféricos, e consequente redução de perdas;
  • Otimização do processo de devolução;
  • Auxílio no controle de infecção hospitalar, devido ao preparo das doses em ambientes reservados;
  • Faturamento mais preciso do consumo de medicamentos (por paciente);
  • Maior segurança para o médico em relação ao cumprimento das prescrições;
  • Participação efetiva do farmacêutico na definição da terapia medicamentosa;
  • Eliminação de erros de transcrição de receitas;
  • Grande adaptabilidade a sistemas informatizados.

A diluição de medicamentos normalmente é realizada no posto de enfermagem pelo profissional Técnico de Enfermagem na unidade de internação.

A Central de Diluição de Medicamentos foi criada visando um maior controle e segurança no processo de diluição. Hoje contamos com atendimento 24h com supervisão em tempo integral por Farmacêuticas. Em ambiente adequado e controlado, onde todas as medicações são preparadas e dispensadas, ficando prontas para equipe de enfermagem administrá-la no paciente. 

Este processo se torna confiável pela diminuição de profissionais em contato com a medicação, pela capacitação efetiva dos mesmos nos processos específicos de diluição e fracionamento de medicamentos, bem como, possibilita que a enfermagem disponibilize maior tempo para a assistência aos cuidados com o paciente beira leito.

Mesmo após a diluição da medicação a classificação das cores se mantem através da etiqueta de identificação que sai automaticamente com os dados do paciente e da prescrição do medicamento.

Imagem 9 Central de Diluição de Medicamentos e etiqueta colorida de identificação da medicação pronta para administração

Rastreabilidade

Sabe-se que o controle e rastreabilidade de medicamentos possui grande importância, porém a manualização dos processos e falta de sistema que contemplasse esta funcionalidade, por muitos anos, impossibilitou a Instituição de ter uma rastreabilidade efetiva e confiável nas medicações.

Através de tecnologia de captura de código de barras, atualmente pode-se rastrear a medicação, desde a sua chegada até o momento de ser administrada no paciente. Todas as medicações possuem código de barras e seu rastreamento e controle é uma realidade.

O controle pelo código de barras torna muito mais simples e seguro a movimentação da medicação, feita por lote, considerando a validade, objetivando usar sempre o que vai expirar primeiro. O sistema não permite que medicações com validade expirada sejam dispensadas pelas Farmácias, criando então uma barreira neste processo. 

O sistema do HVS (Hospital Vida e Saúde) também permite saber para qual paciente o lote foi destinado. “O medicamento certo, para o paciente certo, na hora certa”. 

Imagem 10 Leitura de todas as medicações através do código de barras

Administração de medicamentos com checagem beira leito

A administração de medicamentos é uma atividade frequente para a equipe de Enfermagem dentro de um hospital, porém erros nesta prática podem causar danos aos pacientes. Ela é considerada a última barreira que pode evitar que um erro aconteça e por este motivo se torna tão importante dentro do processo da própria farmácia Hospitalar.

Medicar um paciente requer um processo de comunicação eficaz e auxílio de um sistema ERP que atenda às necessidades. O processo de administração é muito passível de erros, tanto pelo não entendimento da prescrição médica, quanto pelo erro de manipulação e troca da medicação. 

Em virtude da falta de sistema e falha na comunicação, a prescrição manual que era realizada dentro da Instituição de forma incompleta e ilegível, ocasionava erros frequentes na administração, bem como insegurança da equipe técnica.

Tendo em vista sempre melhorar a segurança do paciente com um tratamento e atendimento de qualidade, utilizamos ferramentas que garantam a segurança na administração.

Atualmente, para prestar um bom serviço, é preciso se certificar de diversos pormenores, desde o momento da admissão no Hospital, até a alta do paciente. Uma das etapas que pode contribuir para fomentar a credibilidade da unidade é a administração da medicação com checagem beira leito. 

A Bipagem beira leito possibilita barrar uma possível troca de medicação ou de paciente, pois esta deve ser checada através de leitura código de barras antes da administração, possibilitando o disparo de um alerta quando a medicação administrada não é a que está prescrita ao paciente.

Porém esta bipagem beira leito depende de todo processo que antecede este momento, ou seja, o fluxo e processos dos medicamentos na farmácia e se estes não estiverem completos a administração também não estará.

Imagem 11 Bipagem beira-leito na administração de medicação

Presença do farmacêutico em tempo integral

A Instituição contava apenas com uma farmacêutica, impossibilitando uma efetiva atuação/supervisão em processos e desenvolvimentos de medidas de controle de erros.

O farmacêutico não tinha um papel de controle nos processos e sim uma função de compra de produtos farmacêuticos.

Hoje contamos com 12 profissionais farmacêuticos distribuídos através de atividades, escalas e plantões e que exercem um papel fundamental em toda cadeia de cuidado e controle no processo medicamentoso.

Serviço de Farmácia clínica

Farmácia Clínica é uma área voltada à ciência e prática do uso racional de medicamentos, na qual o farmacêutico avalia as prescrições dos pacientes, buscando evitar interações medicamentosas, incompatibilidades, buscando otimizar a farmacoterapia e promover saúde e bem-estar.

O Farmacêutico atua na gestão dos riscos advindos das interações medicamentosas, interações fármaco-nutriente, incompatibilidades em via Y, duplicidade terapêutica, interferência fármaco-exames, pela qual os pacientes são submetidos durante o período de internação.

Ocorre uma atuação farmacêutica em nível de tomada de decisões clínicas juntamente com equipe médica, multidisciplinar e gestão de risco para garantir a segurança do paciente. É realizado uma evolução no prontuário do paciente, com intuito de contribuir numa possível ação para melhoria do quadro clínico do paciente, através da Farmácia Clínica.

Hoje com a utilização da plataforma Noharm para Farmácia Clinica conseguimos priorizar os pacientes com escore de risco mais alto, bem como a inteligência artificial nos traz vários dados referente ao paciente e medicações prescritas, de forma clara e prática para que o farmacêutico possa decidir a intervenção a ser realizada.

Além da Farmácia Clínica realizada diariamente, nas Unidades de Terapia Intensiva – UTI é realizado “Round’s Multidisciplinares” beira leito com acompanhamento do farmacêutico.

Imagem 12 Round Multidisciplinar

Os farmacêuticos devem ser autorizados e encorajados a fazerem os registros de suas atividades com a finalidade de documentar suas constatações, avaliações, conclusões e recomendações em evolução visível a todos os profissionais da equipe multidisciplinar (LIMA, 2018).

Serviço de Conciliação medicamentosa

Conciliação Medicamentosa é um processo que consiste na obtenção completa e precisa dos medicamentos de uso habitual do paciente e posterior comparação com a prescrição em todas as transições de cuidado.

Esta conciliação é realizada no momento da internação do paciente que utiliza medicação de uso continuo, onde é feito o levantamento das medicações usadas em casa e comparadas pela farmacêutica com as medicações prescritas. Nesta análise é avaliado também lote e validade da medicação que o paciente utiliza habitualmente, orientando-o e garantindo a rastreabilidade do que está sendo utilizado.

Padrão de processo, PP065 – Farmácia Clinica, Conciliação Medicamentosa e Farmacovigilância, com as descrições de todas as orientações e práticas.

Imagem 13 Visita do profissional farmacêutico beira leito para Conciliação Medicamentosa

Indicadores e resultados

Em 2017, com a implantação do Protocolo de Segurança na Prescrição, Uso e Administração de Medicamentos no Hospital Vida & Saúde, também foi implantado o Plano de Segurança  Institucional, tendo como base os protocolos básicos de segurança publicados pelo Ministério de Saúde e estruturada uma Matriz de Indicadores de Segurança.

Neste contexto, para avaliar e gerenciar o processo medicamentoso, foram definidos 3 indicadores:

Imagem 14 Indicador relacionado à prescrição médica – Taxa de erros na prescrição de medicamentos (2020 – 2023).

Do ponto de vista médico, a maioria dos erros relacionados à prescrição médica ocorre em função da falta de habilidade no manuseio do sistema, principalmente com os médicos mais antigos da Instituição, que, por fatores culturais não tiveram a convivência com os avanços tecnológicos implantados. Desta forma, mesmo com treinamento individualizado, trocavam seguidamente a concentração e o quantitativo do medicamento ao prescrever. 

Um problema comum era realizar a prescrição médica fora do horário preconizado pela instituição, principalmente pelos cirurgiões que, ocupados no turno da manhã no Centro Cirúrgico, chegavam para prescrever nas unidades após o horário de vencimento daquela prescrição. Para corrigir e melhorar esta etapa do processo medicamentoso identificou-se os médicos com maior dificuldade, mantendo um funcionário treinado e habilitado nas unidades para auxiliá-los no ato da prescrição.  Outra medida para melhorar a questão dos atrasos da prescrição médica foi alterar em duas horas o horário de vencimento e vigência da prescrição médica.   

Analisando o quadro de indicadores com as respectivas taxas relacionadas aos erros na prescrição, observou-se uma redução significativa com as melhorias implementadas.

Imagem 15 Indicador relacionado à dispensação de medicamentos – Taxa de erro na dispensação de medicamentos (2020 – 2023)

Após o início do gerenciamento dos indicadores e constante conscientização da importância dos registros, observou-se um aumento gradativo do número de notificações no sistema, relacionados à falhas na dispensação de medicamentos, efetuadas pela equipe da Farmácia e da Enfermagem.   Na fase de implantação da gestão dos indicadores, estabeleceu-se como meta inicial a taxa de 2% de erros. Já em junho de 2018, avaliando os resultados, ajustou-se a meta para 0,5% e atualmente nossa meta é 0,10% e estamos com resultados abaixo de 0,01%.

Seguiu-se investindo em capacitação do quadro funcional de Enfermagem e da Equipe da Farmácia, estimulando a notificação dos erros relacionados a esta etapa do processo no sistema. Entre as ações dos ciclos de melhoria que contribuíram para a redução de erros na dispensação de medicamentos podem ser citados os round’s e auditorias internas a fim de avaliar, orientar e dar os encaminhamentos necessários ao cumprimento deste processo. Também se iniciou a análise, divulgação e gestão dos indicadores mensais do setor, com realização de plano de ação específico das melhorias necessárias.

Imagem 16 Indicador relacionado a administração de medicamentos – Taxa de erros na administração de medicamentos (2020 – 2023)

No início de 2018 a gestão dos indicadores assistenciais era recente, estabeleceu-se como meta inicial a taxa de 2% de erros relacionados à administração de medicação. Já em junho de 2018, avaliando os resultados, ajustou-se a meta para 0,50%. Seguiu-se investindo em capacitação do quadro funcional de Enfermagem, bem como, estimulando o auto registro dos erros relacionados a este processo.  Com base na média dos resultados obtidos em 2018, a meta para a taxa de erros relacionados a administração de medicamentos para 2019 foi ajustada para 0,25%. Atualmente estamos com uma meta de 0,10% e com resultados de 0,01% de erros de administração.

O resultado favorável pode ser justificado devido aos investimentos realizados pela Instituição, já citados no decorrer deste projeto, tais como: 

  • Aquisição de palm top para a checagem da medicação a beira leito em todas as unidades de internação;
  • Aquisição de unitarizadora Opuspac; 
  • Identificação das medicações por cores conforme classe; 
  • Confecção e utilização de etiquetas padronizadas de validade de medicamentos e produtos; 
  • Instituição de farmácia clínica e reconciliação medicamentosa; 
  • Dupla conferência e controle de medicamentos de alta vigilância e controlados nas

Unidades de Internação e responsabilização da chave para o enfermeiro do turno;

  • Substituição da heparinização para salinização dos acessos venosos; 
  • Aquisição de frigobar para todas as Unidades para a guarda de medicações termolábeis;
  • Aquisição de caixas acrílicas com chave para a guarda de medicações de alta vigilância nas unidades.

A maioria dos eventos registrados estão relacionadas a falhas de omissão de medicamentos percebidas pela equipe do turno seguinte. Ainda há necessidade de evolução para a auto notificação, ou seja, o profissional que cometeu o erro, ele mesmo realizar a notificação, e não o seu colega.

Após a padronização e implementação dos processos de qualidade e segurança, somadas as ações de melhoria na estrutura física da Farmácia Hospitalar e demais ações descritas deste processo, a Instituição investiu na instalação de novas tecnologias, capacitação e aprendizagem dos profissionais da saúde.

Segue abaixo os beneficiados pelo modelo proposto:

PÚBLICO ALVOBENEFÍCIOS
MédicoSegurança na prescrição, agilidade no processo e garantia do tratamento prescrito.
EnfermagemSegurança na administração, agilidade no processo e diminuição do retrabalho e mais disponibilidade de tempo para a assistência ao paciente.
FarmáciaControle e gestão de estoque, rastreabilidade da medicação, agilidade na avaliação da prescrição e dispensação de medicação.
PacientesQualidade e segurança no tratamento.
Equipe multidisciplinarInformações atualizadas em tempo real e de fácil acesso.
Instituição Mitigar e evitar eventos adversos e redução de processos judiciais.

Atualmente, o Hospital Vida e Saúde conta com cobertura total do processo medicamentoso, proporcionando um atendimento humanizado com qualidade e segurança para o paciente e profissionais envolvidos.

Conclusão

Com a finalização da implementação do processo medicamentoso, desde o recebimento até a administração no paciente, a Instituição obteve uma significativa melhora nos resultados, conforme pode-se verificar nos indicadores de gestão relacionados a segurança na prescrição, uso e administração de medicação.  No período avaliado, não ocorreu nenhum evento adverso classificado como letal, relacionado ao processo medicamentoso, nesta Instituição.

O conjunto de ações desenvolvidas pela Gestão no atendimento seguro ao paciente, e em especial ao relacionado a medicação segura, trouxe a satisfação dos pacientes, familiares e profissionais envolvidos no processo.  Além disto houve diminuição de custos e retrabalho, propiciando ao profissional de saúde maior disponibilidade de tempo na assistência direta ao paciente.

Pode-se afirmar que com a implementação desse processo, investimento tecnológico, melhoria da infraestrutura, a capacitação dos profissionais e gestão dos indicadores assistenciais de segurança, a direção considerou os custos como um importante investimento a favor das vidas que podem ser preservadas e ou salvas através de um protocolo medicamentoso seguro.  

Bibliografia

CARVALHO, Jonathas. A Importância do Profissional Farmacêutico no Âmbito Hospitalar. Tese (Graduação em Farmácia). Faculdade de Educação e Meio Ambiente FAEMA. Ariquemes – RO, p. 31. 2017).

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Autor: PRAISCHARDT, Tatiana Raquel

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